Roda de Conversa apresentou diversas abordagens sobre violência de gênero
A abertura do evento foi feita pelo diretor-geral do Regional paraense, Bruno Giorgi Almeida, idealizador da campanha “Todas e Todos por Elas”.

Dentro da programação da campanha do Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE do Pará) “Todas e Todos por Elas”, iniciativa institucional voltada ao fortalecimento da conscientização, prevenção e enfrentamento às diversas formas de violência de gênero, ocorreu na manhã desta quarta-feira (26/11) a Roda de Conversa: "Diálogos por Elas - Rompendo silêncios, Salvando vidas", no Plenário Antônio Koury, no prédio-sede do TRE.
O evento teve como convidadas a ouvidora da Mulher do TRE do Pará, juíza da 73ª Zona Eleitoral, coordenadora da Comissão de Incentivo à Participação Feminina do Tribunal, Reijjane Ferreira de Oliveira; a chefe da Seção de Apoio Médico, Odontológico e Psicossocial (Samos) do TRE do Pará, a psiquiatra Daniele Boulhosa; a escrivã da Polícia Civil do Estado do Pará, doutoranda em Teoria do Comportamento pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e em Criminologia pela Universidade do Porto, Alethea Bernardo, e a professora, pesquisadora e vice-coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Negritude e a Questão Racial da UFPA, Lívia Moura. A mediação foi da assessora de Comunicação do TRE do Pará, a jornalista Renata Ferreira.
A abertura da Roda de Conversa foi feita pelo diretor-geral do Regional paraense, Bruno Giorgi Almeida, idealizador da campanha. “É uma honra abrir este ciclo que carrega um nome simples, mas muito poderoso: Diálogos por Elas. Gosto de começar reforçando algo que, para mim, é essencial: quando falamos de violência contra mulheres, não estamos falando de um problema delas, estamos falando de um fracasso nosso, como sociedade”, iniciou.
Ele lembrou que a programação tinha como intuito não apenas abrir as portas do Tribunal para ouvir as convidadas, mas também para aprender, para refletir, e principalmente para agir. “Porque diálogo sem ação vira discurso. E o que estamos construindo aqui é exatamente o contrário: uma rede, uma consciência coletiva, um compromisso claro de que a violência não pode, e não vai encontrar silêncio dentro desta instituição”, garantiu.
O diretor-geral enfatizou ainda que o papel da Justiça Eleitoral deve ir além das urnas. “Nós lidamos com cidadania, dignidade, igualdade, e nenhuma democracia se sustenta onde mulheres vivem com medo. Falar de violência de gênero é falar de democracia. É falar de vida. É falar de direitos que não podem ser negociados”, concluiu.
Diálogo
A primeira a falar na Roda de Conversa foi Alethea Bernardo, que apresentou alguns números referentes à violência de gênero. "É importante observar esses dados, porque dessa forma conseguimos ver o quanto evoluímos e o quanto ainda precisamos evoluir", disse.
Entre os números apresentados estão os seguintes: 37% das mulheres vivenciaram algum tipo de violência no último ano. "Todos os anos temos um aumento considerável desses números", pontuou a escrivã. Além disso, 31% foram vítimas de ofensas verbais; 17% violência física; 16% stalking; 47,4% não fez nada contra essas violências sofridas e a taxa de estupro no Pará está em 116%.
Logo depois, foi a vez da professora e pesquisadora Lívia Moura falar sobre a violência de gênero, a partir do recorte da violência sofrida pela mulher negra. "É importante que se diga desde já que, de acordo com o anuário produzido sobre o tema, que a maioria das mulheres atingidas por feminicídio no Brasil é formada por mulheres negras - englobando negras e pardas, de acordo com a classificação do IBGE. Esse percentual é de 63,6%", informou a pesquisadora.
Ela apontou ainda outros recortes envolvendo mulheres negras, como o fato de elas estarem em maior número também quando se fala em encarceramento; menores remunerações e ainda de possuir um tempo de escolaridade menor (9 anos), em relação às mulheres brancas (11 anos).
Em seguida, foi a vez da médica Danielle Boulhosa que abordou a questão da escuta empática, a partir dos impactos da violência de gênero na saúde feminina. "É necessário dizer que a violência está muito próxima de todas nós, por isso precisamos aprender a ouvir mais, precisamos dar apoio e acolhimento", destacou.
A psiquiatra enfatizou que as consequências vivenciadas por mulheres que sofreram violência de gênero podem ser diversas, desde o estresse pós-traumático até mesmo a questão de se culpabilizar pelo que ocorreu. "Em todos esses casos é necessário que se tenha uma escuta empática, por isso devemos sempre estar atentas", avaliou.
Proteção
Para encerrar a Roda de Conversa, a ouvidora da Mulher do TRE do Pará, juíza Rejane Ferreira de Oliveira, falou sobre a "Rede de proteção às mulheres em situação de violência de gênero".
Ela iniciou parabenizando o TRE do Pará e o diretor-geral, Bruno Giorgi Almeida pela iniciativa. "É fundamental que o TRE, enquanto uma instituição que atua na cidadania e na democracia, possa trazer esse tema para a discussão, essa questão da violência de gênero. Por isso, quero parabenizar por essa iniciativa", comentou.
A juíza enfatizou que a violência de gênero é um fenômeno mundial, que precisa ser discutido. "Temos umas das leis mais completas sobre esse assunto, a Maria da Penha, desde 2006, mas ainda continuamos como um dos países que mais mata mulheres no mundo. Precisamos saber o que fazer com relação a isso", enfatizou.
A magistrada detalhou o que é a chamada rede de apoio, de acordo com o que consta no artigo 8º da Lei Maria da Penha. "Ele diz, entre outras coisas, que todo mundo deve atuar na proteção das mulheres e atuar para proteger os seus direitos", disse. Em seguida, citou ações e procedimentos da rede de proteção no Pará.
Ao final, o público pode fazer intervenções e perguntas.
Texto: Alexandra Cavalcanti / Ascom TRE do Pará.
Fotos: Thalles Puget / Ascom TRE do Pará.

